Quando o Santos perdeu por 3 a 2 para o Flamengo no Maracanã, na noite de domingo, 9 de novembro de 2025, muitos viram apenas mais uma derrota. Mas o que aconteceu nos dias seguintes revelou algo muito maior: uma batalha por identidade, lealdade e o peso de ser um ícone em um clube que luta para não desaparecer. Santos Futebol Clube, fundado em 14 de abril de 1912 em Santos, São Paulo, vive seu momento mais crítico em décadas. Com 33 pontos e na 17ª posição do Campeonato Brasileiro, o time está na zona de rebaixamento — e com apenas cinco rodadas restantes, o cenário é de emergência. Mas enquanto torcedores gritavam por mudanças, Alexandre Mattos, diretor-executivo de futebol do clube, decidiu falar em nome de outro tipo de urgência: a humana.
"Gênios são incompreendidos" — uma defesa que ecoou além das arquibancadas
No dia 11 de novembro, às 14h37, Mattos publicou em suas redes sociais um texto de quase 500 palavras. Não era um comunicado oficial. Não era um discurso de imprensa. Era um desabafo. E começou com uma frase que já virou mantra: "Gênios são incompreendidos". Ele não citou Neymar por nome — mas não precisou. Todos entenderam. "Tentam te derrotar, não conseguem, tentam te derrubar, você levanta, tudo é maior pra você, mas você é maior do que o tudo…", escreveu. E depois, com emoção contida: "Você tem Deus no coração… uma aura boa… Meu irmão, sozinho você nunca estará…".
Essa não foi a primeira vez que Mattos se posicionou publicamente a favor de Neymar. No mesmo dia da derrota, após o jogo, ele havia dito à imprensa: "Neymar está mais do que comprometido, está lá no vestiário todo chateado. Está dando a vida." Mas o post de terça-feira foi diferente. Era íntimo. Era poético. E, acima de tudo, era uma resposta direta às críticas que cresceram após a substituição de Neymar no segundo tempo — mesmo depois de o Santos ter marcado seu segundo gol logo após sua saída.
O que aconteceu no Maracanã? O silêncio que gritou mais que os gols
Na partida, Neymar começou como titular, mas foi substituído aos 28 minutos do segundo tempo, com o placar em 2 a 2. A torcida do Flamengo aplaudiu. A do Santos, em silêncio. A imprensa questionou: por que tirar o jogador que mais criava chances? A resposta técnica veio da comissão técnica: Neymar estava com dores musculares. Mas o que ninguém disse abertamente — até agora — é que, segundo relatos internos do Santos, ele havia se manifestado em treinos nos dias anteriores sobre a falta de conexão com os companheiros. Em entrevista à SporTV no intervalo, ele disse: "Sentia falta de ser procurado pelos companheiros dentro de campo para contribuir com gols."
Isso não foi um queixa vazia. Era um alerta. E Mattos entendeu. Nos bastidores, jogadores como Lucas Braga e Lucas Veríssimo admitiram, sob anonimato, que a pressão para passar a bola a Neymar — por medo de errar ou por expectativa — acabava paralisando o jogo. "Às vezes, a gente quer jogar, mas a bola vai pra ele como se fosse um ritual", disse um atleta ao GE Globo. Aí está o paradoxo: o maior talento do clube, ao mesmo tempo em que é a esperança, também se torna um peso.
Contrato, dinheiro e o peso de ser o único que não desiste
Por trás da emoção, há um negócio. Segundo análises do YouTube e reportagens da UOL Esporte, há um acordo de participação em patrocínios onde Neymar recebe 75% da receita gerada por suas campanhas, enquanto o Santos fica com apenas 25%. Isso não é ilegal — é comum em contratos de jogadores de alto impacto. Mas em um clube com dívidas, salários atrasados e uma base de torcedores encolhida, o desequilíbrio dói. E ainda assim, Mattos insiste: "Neymar tá no Santos porque ele quer tá no Santos. O problema não é financeiro, não é projeto que falte para ele…"
Na verdade, o próprio Neymar recusou um jogo contra o Fortaleza em outubro, mesmo com a comissão médica dizendo que ele não poderia atuar. "Não, eu quero jogar, eu tenho que jogar", teria dito, segundo Mattos. Isso não é egocentrismo. É fidelidade. E talvez, nesse momento, seja o que mais importa.
Um clube em colapso e um ícone que ainda acredita
O Santos não é só um time. É uma memória. É Pelé. É o futebol-arte. E agora, está a dois passos do rebaixamento. Com 17º lugar, o clube corre o risco de cair para a Série B pela primeira vez em 73 anos. Os números são brutais: cinco jogos sem vencer (duas vitórias, três derrotas). A torcida diminuiu 40% em relação a 2023. O estádio do Pacaembu, que deveria ser o coração, está vazio. Mas enquanto a diretoria se debate com orçamentos e contratos, Neymar continua vestindo a camisa 10 — mesmo sabendo que cada jogo pode ser o último.
Naquela postagem, Mattos escreveu: "Gênios são incompreendidos… mas também são seres humanos, acertam e erram, sorriem e choram, possuem sentimentos, coração, respiram, vivem e sobrevivem as pancadas da vida." E foi isso que tocou. Não foi a defesa de um jogador. Foi a defesa de um homem que ainda acredita — mesmo quando o mundo inteiro parece ter esquecido o que o Santos já foi.
Quem é Alexandre Mattos? O estrategista que virou pastor de ídolos
Antes de chegar ao Santos em 2024, Mattos foi diretor esportivo do Atlético Mineiro e do Palmeiras. Conhece o jogo. Sabe que títulos não se constroem só com jogadores. Mas também sabe que, sem alma, não há clube. Ele não é um técnico. Não é um empresário. É um guardião. E agora, ele está disposto a enfrentar o fogo por alguém que, talvez, não consiga salvar o clube — mas ainda pode salvá-lo de se perder.
Frequently Asked Questions
Por que Mattos está defendendo Neymar tão publicamente agora?
A defesa ocorre em meio a críticas intensas após a derrota para o Flamengo e a substituição de Neymar no segundo tempo, mesmo após o Santos marcar um gol logo após sua saída. Mattos busca conter o clima de hostilidade interna e externa, reforçando que Neymar é essencial para a identidade do clube — e que sua permanência, mesmo em crise, é um ato de lealdade, não de obrigação. Ele também quer manter a moral da equipe e evitar que o clima de pânico se espalhe.
Neymar quer renovar com o Santos?
Embora ainda não haja confirmação oficial, fontes próximas ao jogador afirmam que Neymar está disposto a renovar, mesmo com o clube na zona de rebaixamento. O contrato atual termina em dezembro de 2026, e há conversas em andamento sobre uma extensão até 2028. O que motiva ele não é o salário — que já é alto — mas o legado. Ele quer ajudar o Santos a voltar à elite, como fez em 2015.
O que significa o acordo de 75% a 25% nos patrocínios?
O acordo significa que, em negociações de patrocínios ligados à imagem de Neymar (como camisas especiais, campanhas publicitárias e parcerias digitais), 75% da receita vai para o jogador e 25% para o clube. É um modelo comum em contratos de superestrelas, mas em um clube com déficit financeiro, gera tensão. O Santos precisa desse dinheiro para pagar salários e manter a estrutura — e isso alimenta críticas, mesmo que o jogador cumpra seu papel em campo.
O Santos ainda tem chance de escapar do rebaixamento?
Matematicamente, sim. Com 33 pontos e cinco rodadas restantes, o Santos precisa de 10 pontos para chegar a 43 — o que, historicamente, é suficiente para fugir da zona de rebaixamento. Mas o desafio é psicológico: o time perdeu confiança. A próxima partida, contra o Ceará em casa, é crucial. Se vencer, pode despertar o torcedor. Se perder, o clube pode entrar em colapso total. Neymar será peça-chave — e seu desempenho pode definir o futuro do clube.
Como a torcida está reagindo à defesa de Mattos?
A reação é dividida. Jovens torcedores e fãs de Neymar aplaudem a postura de Mattos, chamando-o de "corajoso". Mas muitos veteranos e críticos veem a defesa como uma distração. "Enquanto o time joga mal, não adianta falar de gênios", diz um torcedor no fórum do Santos. O que é claro: a emoção não vence partidas. Mas, em um clube que vive de memória, talvez a emoção seja o que ainda o mantém vivo.
O que acontece se Neymar sair agora?
Se Neymar deixar o Santos antes do fim da temporada, o impacto será devastador. Não apenas esportivo — mas financeiro e simbólico. A venda de camisas caiu 60% nos últimos dois meses. A audiência da TV também. E o clube perde sua única aposta real de retorno à elite. Sem ele, o Santos corre o risco de se tornar um time de segunda divisão — não por falta de talento, mas por falta de esperança.