
Em uma manhã de sexta‑feira, em São Paulo, o atacante do Barcelona, Raphinha, levantou a voz contra a FIFA Club World Cup. Ele alegou que a decisão de marcar o torneio durante o período de recesso do futebol europeu prejudica o descanso dos jogadores, que já encaram uma temporada exaustiva. Seu discurso, transmitido em um evento esportivo, gerou reação imediata de Zico, ícone do Flamengo e da seleção brasileira.
A polêmica entre Zico e Raphinha
Raphinha descreveu a situação como "injusta", lembrando que, ao final da temporada, atletas ainda precisam viajar para representar seleções e, logo depois, encarar a competição intercontinental. Ele citou Marquinhos e Beraldo como exemplos: "Jogar a final da Champions, não comemorar, ainda correr para a seleção e, de repente, entrar na Copa do Mundo de clubes". O jogador defendia um intervalo de três a quatro semanas entre o fim da liga europeia e o início de novos compromissos.
Em resposta, Zico, em entrevista ao Placar TV, foi direto: "Ninguém descobriu ontem que essa competição iria acontecer. Foi definido há muito tempo". O ex‑meio‑campista ainda relembrou que Raphinha teve a sorte de participar da única Copa do Mundo que disputou – a de 2022, realizada no Catar – exatamente no meio da temporada, quando a FIFA alterou o calendário para acomodar o evento. "Se ele tivesse jogado como todo mundo, nas férias, não faria esse comentário", afirmou Zico, apontando a hipótese de que Raphinha está reagindo a uma situação atípica.
Para Zico, a queixa de Raphinha não faz sentido quando se olha para a história recente. Jogadores de sua geração, segundo o ídolo, costumavam fechar a temporada com partidas decisivas e, ainda assim, conseguiram preservar as férias. "A gente jogava, assinava acordos, ia embora direto para a folga. Nunca tivemos essa discussão de ‘invadiu nossas férias’", recordou.

Impactos do calendário sobre os jogadores
A discussão traz à tona um debate antigo: o equilíbrio entre a necessidade de receita e visibilidade dos torneios e a saúde física e mental dos atletas. Nos últimos anos, a FIFA tem inserido novos formatos – como o Mundial de Clubes em dezembro – que colidem com o calendário tradicional da Europa, da América do Sul e das seleções. Essa sobrecarga gera preocupação em clubes, sindicatos de jogadores e treinadores, que temem lesões e queda de rendimento.
Especialistas apontam que a carga de jogos por temporada já ultrapassa o limite recomendado pela FIFA. O relatório de 2023 indicou que jogadores de elite disputam, em média, 60 a 70 partidas oficiais ao ano, somando amistosos, ligas nacionais, copas e competições continentais. Inserir ainda um torneio como o Club World Cup, com deslocamentos intercontinentais, eleva o risco de desgaste.
Algumas propostas surgem como alternativa: reduzir o número de participantes do torneio, mudar a data para o período de entressafras (janeiro) ou ainda criar um calendário de janela fixa, em que clubes e seleções negociem previamente. Ainda assim, a FIFA parece relutante em abrir espaço para diálogos, como ressaltou Raphinha ao afirmar que nunca foi consultado sobre as datas.
Enquanto isso, jogadores como Raphinha utilizam sua visibilidade para pressionar por mudanças, e ícones como Zico lembram que, historicamente, o futebol sempre encontrou maneiras de adaptar-se sem perder a competitividade. O que permanece incerto é até que ponto as federações vão ceder às exigências de descanso, ou se os atletas precisarão aceitar o ritmo atual como norma.